(TEXTO DE PAULO AUGUSTO FARINA)
Não conheci meu opa. O pouco que sei sobre sua vida são fragmentos, narrados pela oma. Registro alguns deles para que sua história não se perca. Sua vida é muito parecida com a maioria dos refugiados alemães de Rolândia que tiveram suas vidas dilaceradas pelo advento do nazismo. Dramas eternizados pelo célebre escritor israelense Aharon Appelfeld (1932 – 2018). Aliás, a leitura de Appelfeld é fundamental para uma melhor compreensão desta história. Ele narra o drama de famílias em assimilação. Pessoas que eram alemãs em língua e cultura, tolhidas pelas Leis de Nuremberg. O totalitarismo nazista começou aos poucos... Meu opa e seu irmão foram perseguidos pela juventude hitlerista na escola. O irmão dele teve o nariz quebrado por militantes. Posteriormente, acabaram enviados para campos de trabalho. Sigfried tinha apenas 9 anos quando foi parar em um deles. Narrava que eram tratados com sopa feitas com restos e, como era um menino, raramente conseguia uma cabeça de peixe, a iguaria da refeição... Acabou desnutrido. A última fábrica em que trabalhou, era de munições. Todos os dias, pela manhã, os presos eram obrigados a perfilarem-se, nus. No fim da Guerra, um Oficial verificava se ainda havia condições de trabalho e, em caso contrário, os selecionados eram enviados ao front para atravessarem campos minados. Chegou perto de ser enviado para a morte. Um belo dia os soldados deixaram a fábrica: Os soviéticos estavam chegando... Sigfried colocou umas granadas no bolso e saiu correndo em direção ao front russo. Era apenas um jovem, sem pai, mãe, em pele e ossos... Como o sobretudo estava aos farrapos perdeu as granadas: Sorte! Quando chegou à linha russa, foi revistado. Como estava desarmado, levaram-no ao Oficial que mandou liberá-lo: Deixem esse aí, ele não consegue andar mais 500 metros... Sobreviveu. Não mais encontrou pai, mãe e irmão. Estava sozinho, em uma terra devastada e sob domínio soviético. Sua cidade natal, Breslau, fora anexada pela Polônia. Não demorou muito para perceber que o regime comunista era tirânico e sem perspectivas. Rumou para o Oeste. Acabou conseguindo trabalho em uma Fábrica de Relógios, em Schwenningem, onde conheceu a oma, Helga. Casou e deixou a Alemanha, mas os fantasmas do passado o perseguiram por toda a vida... Faleceu aos 44 anos e está sepultado no Cemitério Central de Rolândia. Atualmente, no Jardim Capricórnio, há uma rua em sua memória.
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